Mariana Belmont http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br Cidades que são florestas, florestas que são cidades, mudanças climáticas e conexões para viver melhor. Thu, 19 Mar 2020 07:00:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A gente não precisa de acúmulos de tragédias http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/03/19/a-gente-nao-precisa-de-acumulos-de-tragedias/ http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/03/19/a-gente-nao-precisa-de-acumulos-de-tragedias/#respond Thu, 19 Mar 2020 07:00:28 +0000 http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/?p=188 Os meus dois primeiros pedidos ao começar este texto são: se você tem o privilégio de ficar em casa sem contato pessoal com ninguém, fique. O outro, é se você tem o privilégio de limpar a sua privada sozinha e continuar pagando sua diarista ou qualquer serviço de profissionais autônomos, faça isso. Eu não faço ideia de como o Brasil estará quando este texto sair, talvez o número de infectados com o coronavírus tenha aumentado expressivamente.

Bom, há alguns dias inundada de informação, achei que seria prudente me acalmar e abordar algo que quase não estamos vendo na imprensa geral: o que toda essa pandemia tem a ver com as questões ambientais mundiais, também em estado alarmista e em crise? Em busca de informações, muitas leituras, conversas com amigos e um olhar generoso para o caos, vou tentar começar essa reflexão e espero que, quando esse texto sair, a gente tenha mais conteúdos brasileiros sobre isso.

Talvez ainda seja novidade para a maioria das pessoas, mas foi a intervenção humana que deu início à pandemia que vem deixando o globo terrestre em pandemia, como chama Organização Mundial da Saúde.

O coronavírus se espalhou pela China e adoeceu pelo menos 73.000 pessoas e matou pelo menos 2.000, desencadeando uma emergência de saúde global. Algumas evidências apontam que o vírus foi transmitido aos seres humanos em um mercado em Wuhan, chamado de “mercado úmido”, província de Hubei, já que muitos casos confirmados envolveram indivíduos contaminados pela Covid-19, que estiveram presentes neste mercado local. Além de frutos do mar, carne fresca e animais selvagens vivos vendidos e abatidos ali, sabe-se também que os coronavírus são passados de algumas espécies, incluindo filhotes de lobo vivos, salamandras, crocodilos, escorpiões, ratos, esquilos, raposas, civetas, tartarugas, morcego e camelo, para as pessoas. Isso indica que o vírus pode ter surgido dos animais selvagens à venda no mercado em Wuhan.

A disseminação de doenças zoonóticas, que podem ser transmitidas ao ser humano por animais, é potencializada através do tráfico de animais silvestres, desmatamento e mudanças climáticas. Essas ameaças aumentam a proximidade entre os humanos e os animais. O novo coronavírus é apenas mais um exemplo atual de uma série de causadores de doença que se disseminam por meio do tráfico de animais silvestres, assim como gripe aviária, ebola, a Aids e a síndrome respiratória aguda grave, Sars.

Especialistas dizem que qualquer doença surgida nos últimos 30 ou 40 anos, é resultado da movimentação humana na mudança dos ecossistemas, invasão de áreas de preservação e a chegada cada vez mais próxima em florestas que deveriam ser intocáveis. E um dos principais problemas: o tráfico de animais silvestres para consumo humano, de forma perigosa e misturada com outros animais além do contato humano. Para quem não sabe, os animais silvestres são seres que jamais deveriam ter contato com humanos e com os centros urbanos, não se sabe quantas infecções circulam nas populações de animais selvagens ou sob quais circunstâncias eles poderiam criar a próxima pandemia humana. O tráfico de animais silvestres é um potencial criador de surtos graves em grandes centros populacionais, que consomem desse mercado.

Segundo a ONG Renctas, o tráfico de animais silvestres movimenta cerca de US$ 10 a 20 bilhões (entre R$ 52 e R$ 104 bi) em todo o mundo, colocando o comércio ilegal de animais silvestres na terceira maior atividade ilícita do mundo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e de armas. E o Brasil participa com 15% desse valor, aproximadamente US$ 900 milhões (cerca de R$ 4,7 bi). A devastação das florestas e a retirada de animais silvestres já causaram a extinção de inúmeras espécies e consequentemente um desequilíbrio ecológico. Os mais exóticos, raros e até ferozes, dentre muitos outros, pagam com a vida pelo simples prazer que algumas pessoas têm em possuir um animal silvestre em casa ou em consumir suas peles e carnes.

As mudanças climáticas, o desmatamento, a invasão de áreas selvagens protegidas, o consumo e o comércio ilegal de animais silvestres contribuem sistematicamente para a disseminação de pandemias. O aumento do desmatamento, por exemplo, é um dos grandes causadores de novas e velhas doenças. Desenvolver a floresta da maneira errada pode ser como abrir uma caixa de surpresas. Isso só mostra que a gente usa os recursos ambientais de forma descontrolada e irresponsável.

Hoje, há um número incontável de biólogos, veterinários, médicos e epidemiologistas em um esforço mundial para para entender a o caminho do que chamam de “ecologia da doença”. Com muitas informações desde que o problema surgiu na China e que agora chega ao Brasil, ficamos cada vez mais assustados, afinal a pandemia bateu à nossa porta muito mais rápido do que esperávamos.

Por ora, o caminho é cuidar do momento e não esquecer que as causas dessa pandemia estão diretamente ligadas à falta de preocupação global com os recursos naturais, com as florestas e com um consumo mais responsável. Vivemos agora uma pane generalizada no sistema de saúde pública, perdendo um grande número de pessoas. A pandemia que chegou a pouco no Brasil vai atingir diretamente a população mais pobre, as comunidades e povos tradicionais de áreas mais afastadas. E à medida em que perdemos florestas e biodiversidade em volta do globo, o surto de coronavírus pode ser apenas o começo para outras pandemias em escala muito maior acontecerem. E novas pandemias virão, não há dúvidas.

Talvez seja o momento de criarmos outras formas de viver, formas que ainda não sabemos bem qual é, mas o planeta não suporta mais tanto descontrole e pressão dos seres humanos. Cuidar do planeta é cuidar de si e dos outros, afinal o que sai de mim afeta nosso entorno em todo o mundo. Quais serão nossos novos jeitos de estar no mundo? Evitando o aumento da desigualdade social, desmatamento que acabam com o clima e a biodiversidade e cuidar do globo para que a gente ainda consiga equilibrar a vida por mais algum tempo. Está na hora da gente criar uma nova dinâmica de convivência, que a gente ainda não sabe qual é.

* Desde que essa nova doença começou a se espalhar pela China e depois pelo mundo, alguns sites confiáveis (isso é importante!!) estão acompanhando as pesquisas, divulgando informações e a busca pela origem e solução da pandemia. Alguns deixei no corpo do texto, mas outros listo abaixo para quem quiser acompanhar (textos em inglês).

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O feminismo da ponte pra cá conhece a cidade inteira http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/03/12/o-feminismo-da-ponte-pra-ca-conhece-a-cidade-inteira/ http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/03/12/o-feminismo-da-ponte-pra-ca-conhece-a-cidade-inteira/#respond Thu, 12 Mar 2020 11:19:37 +0000 http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/?p=183 Em ritmo de mês da luta pelos direitos das mulheres, eu começo esse texto para dizer que nunca me considerei feminista. É sério, hoje com mais clareza sobre o que significa essa palavra e a importância da luta das mulheres para que o feminismo seja defendido por todas nós, todo os dias. Mas assumo a minha dificuldade em me definir feminista. Vou explicar melhor para ninguém achar que estou rachando mais um movimento (risos). 

Nasci, cresci e fui criada por uma quantidade absurda de mulheres, minha madrinha cercou a gente de muito amor e cuidado. Muitas outras mulheres, tias, reuniam-se em grandes mesas no final de semana contando muitas histórias de Pernambuco, estado da minha madrinha e da maioria da família. Meu padrinho é um senhor quieto, coração tranquilo e gosta de observar e ouvir de longe toda a bagunça. 

A vida me deu uma madrinha dentro do ônibus. A minha mãe acordava 3h30, saía 4h de casa, no bairro de Colônia, em São Paulo, pegava o primeiro busão e seguia para trabalhar no Brás. Eu ia junto até meus sete meses de vida. Ela me deixava no estoque da loja enquanto trabalhava, depois pegava busão de volta e chegava quase meia-noite em casa. Um dia, bem cedinho, minha mãe conversava com uma moça, falando do trabalho que era me levar todos os dias pra tão longe. Foi então que a moça disse “mas minha mãe cuida de crianças”. Foi desse diálogo simples e inesperado que, às 4h, no ônibus sentido Santo Amaro, a vida me deu uma família.

Minha madrinha veio no pau de arara lá de Pernambuco, sem documentos, firmada na fé que aqui as coisas iam ser diferentes, e foram. Trabalhou no chão da fábrica, teve três filhos, criou um monte de outros, passou por situações das mais diversas pra ser feliz aqui, e quase foi. Ela chorava quando ouvia Amargurado, do Tião Carreiro e Pardinho, talvez fosse alguma saudade. 

E quase foi como milhares de mulheres da margem, dos cantos das cidades. A mulher de onde começa a cidade, que vibra com lugar vazio no ônibus. Que conta os trocados, que quer ter uma vida melhor. Que chora, mas resiste. Que apanha da vida, que apanha do tempo esperando o transporte, mas resiste. Quem nos salva de nós mesmas? Dá tempo? 

É bem ali onde partido político não discute feminismo, não impulsiona a valorização da mulher. É ali que as mulheres chegam tarde da noite, descem do ônibus tarde da noite em lugar sem iluminação. O poder público não lembra do feminismo. Ali onde as casas com homens não respeitam o protagonismo da mulher, que escoram em suas costas com suas incapacidades, que usam de violência e chantagem para aprisionar mulheres. É ali nessa diversidade de pensamentos que vivem as mulheres que ganham menos, que trabalham mais, que cuidam dos filhos delas e dos outros, mas que não podem desistir, mesmo nas horas em que pensam nisso. Não há coragem de soltar a mão de seus filhos, dos seus sonhos. São muitas mães que choram a morte de seus filhos, assassinados pelo estado, pela PM que vive a cercar os jovens de todas as quebradas.

“Perdemos muito tempo ensinando as meninas a se preocupar com o que os meninos pensam delas. Mas o oposto não acontece.” — Sejamos Todos Feministas, da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie

É nesse misto de história e realidade da margem, nesse caldeirão de sentimento e lembrança que só hoje percebo a força de tantas mulheres que me criaram, tantas mulheres, tantas histórias. Mulheres que carregam cimento nas costas, que organizam mutirões, que estão a frente de movimentos, mulheres. E na raiz das mobilizações políticas nos territórios, nas condições precárias das habitações, com lideranças em sua maioria mulheres, que compreenderam que a organização coletiva era a única maneira de forçar o Estado a cobrir os bairros periféricos com serviços e infraestrutura urbana. Ou levantar acampamentos de assentamentos rurais. 

E já que é pra ser feminista, vamos levar a palavra para corpos de mulheres de luta e que força, que caem e sentem dor, choram, mas não desistem. Que a gente use a palavra para a conexão e perceba nossas diferenças e que dê espaço e força para as mulheres que ajudam de fato a construir esse país. Que a roda de samba da quebrada seja feminista e de luta, que as portas de bares sejam feministas, que o forró da tia Lila seja cada vez mais feminista, que eu possa frequentar lugares, que eu possa ocupar a rua sem precisar ouvir que aquele espaço não me pertence. E que a minha aparência seja como eu quiser que seja. E todas as mulheres construam suas caminhadas, livres e sem amarras do machismo.

Lembrei agora de um trecho do texto da minha amiga Semayat Oliveira, jornalista do Nós, Mulheres da Periferia, que nos deixa com mais reflexões:

“Mas bom, BOM mesmo seria se, na volta pra casa, resquício nenhum de medo nos assombrasse. Que os homens deixassem de escorar sua preguiça, falta de capacidade emocional, planejamento e coragem nas costas de uma mulher. Que fossem mais pais. Que se responsabilizassem por suas escolhas. Que cuidassem de onde vivem e de quem partilha essa morada, só pra ser RECÍPROCO. Que procurassem construir relações mais saudáveis e que pudessem, de fato, contribuir para dias mais leves.”

Seguimos, companheiras, a busca da liberdade dói, mas estamos juntas. 

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A democracia está exausta http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/03/05/a-democracia-esta-exausta/ http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/03/05/a-democracia-esta-exausta/#respond Thu, 05 Mar 2020 07:00:29 +0000 http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/?p=179 Veja, eu ando perdida, é como se eu tivesse tomado o ônibus errado e dormido nele, me deixaram no ponto final de algum lugar que não sei bem onde fica e agora não consigo entender como volto para meu ponto de partida. A gente vive um dos piores momentos políticos do Brasil, não tenha dúvidas disso, quem era pobre tá mais pobre, quem era morto pelo Estado agora morre com toda a família, de fome, de tiro ou de tristeza.

Mas isso não quer dizer que desistimos, desistir jamais.

Esses dias tenho demorado mais para escrever, me falta inspiração e me sobra cansaço, estou exausta. É como se a gente tentasse apagar os incêndios, e o fogo estivesse aumentando, aumentando. Não tem fim. O corpo dói, a cabeça dói, não há bom dia que não venha acompanhado de uma pitada de desgraça. Exausta! E continuamos correndo, essa é nossa atual condição, mas o corpo não tá aguenta, ele fica doente e deprimente.

E quando me sinto cansada demais, vejo que meu corpo está adoecendo por tantas horas de luta e trabalho, que se misturam, eu lembro da minha amiga Áurea Carolina, que um dia me disse que sem corpo presente e saudável não há luta. Lembro sobre o que é importante, como a amiga irmã Bianca Santana sempre diz. Penso como somos importantes nesse processo, como me lembra Carô Evangelista, outra amada amiga. Obrigada, mulheres.

Democracia?

Na quarta-feira de cinzas, quase uma ressaca que não passa. O presidente Jair Bolsonaro teria disparado um vídeo convocando a população para um ato a favor dos militares e contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal Nacional para o dia 15 de março. Aí você senta, olha de novo a notícia, lê o Twitter e pensa: COMO ASSIM? O presidente quer dar um golpe, acabar com as instituições e com a democracia?

Mas qual democracia, não é mesmo? Eu respeito, acompanho e participo de uma série de grupos, movimentos e conversas sobre democracia — articulações necessárias no tempo que vivemos.

Mas será que esse Estado Democrático de Direito chega nas periferias das cidades? Talvez em forma de voto, talvez durante as eleições, quando o bairro fica cheio de muitos cartazes, muitas visitas de candidatos que parecem mais celebridades intocáveis. E a lista de faltas de equipamentos públicos, assistência e atenção dos estados nos territórios é infinita, antes ou depois das eleições.

Eu só consigo sentir ódio de lembrar da falta de atendimento nas emergências dos prontos socorros das quebradas, de amigos morrendo, perdendo filhos e sendo tratados como produtos descartáveis nas filas. Meu corpo é tomado de ódio e cansaço, e o ódio não espera nenhum resultado eleitoral para bater na porta da minha família, dos meus vizinhos e as pessoas que eu conheço na quebrada.

Em 2018, a dor no corpo não melhorou, mas a gente foi dormir chorando com o resultado das eleições do dia 7 de outubro e acordou numa manhã de garoa com a notícia do assassinato do mestre de capoeira Moa do Katendê, um dos maiores sábios da cultura popular, que foi morto a facadas pelas costas por um seguidor de Jair Bolsonaro após uma discussão sobre política em um bar de Salvador, na Bahia. Mestre Moa é mais uma vítima dos inúmeros assassinatos políticos que acontecem todos os dias neste país, assim como a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, assassinados no centro do Rio no dia 14 de março de 2018.

Que democracia é essa que se naturaliza o assassinato de nove jovens e crianças no massacre de Paraisópolis? Que se normaliza, e vida que segue depois de uma vereadora eleita ser assassinada? E que todos os dias mães e pais choram por filhos inocentes sendo mortos pelo Estado? Que democracia é essa que tem um Estado que mata uma criança de 8 anos dentro da favela? E que tira povos e comunidades tradicionais de seus territórios para um desenvolvimento que causa mais desigualdade social?

A democracia real só será efetiva com a ampliação de direitos e conquistas de nosso povo PRETO, PERIFÉRICO e POBRE. A gente só conquistou parte do que sonhamos e nos territórios periféricos, quilombolas, indígenas, ribeirinhas o distante Estado Democrático de Direito segue inalcançável.

Nossos sonhos e a solução dos problemas não acabam apenas de dois em dois anos, nos períodos eleitorais. Então, presidente, seguimos reivindicando as ruas enquanto espaço de diálogo, debate e fazer político, mas nunca como território do ódio. Reivindicamos nossa liberdade de expressão, seja ela ideológica, política ou religiosa.

Seguimos por aqui, em grupo, em bando, na balbúrdia e se protegendo. Mas ao lado dos nossos mestres, ao lado dos nossos, resistindo e lutando com eles pelo básico e pela vida. E em tempos de ódio, retrocesso e falta de informação, a gente avalia o passado, o presente e continua combatendo o ódio e o retrocesso.

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Desta vez é mentira! 2020 começou bem antes do Carnaval http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/02/27/e-mentira-2020-ja-comecou-antes-do-carnaval-sim/ http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/02/27/e-mentira-2020-ja-comecou-antes-do-carnaval-sim/#respond Thu, 27 Feb 2020 07:00:16 +0000 http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/?p=172 Passei o Carnaval em casa entre uma gripe, livros, textos e maratona de séries, uma saída ou outra para pegar garoa e passar frio, para piorar a gripe.

Vivemos em tempos que não dá para mergulhar com tranquilidade e chegar no topo do rio para respirar antes do próximo mergulho, é impossível. A sensação é que quando a gente volta alguém está ali para te empurrar e te afogar. Não há respiro, cara, é intenso. E esse tem sido nossos anos. Por isso, fiquei imaginando que não dá pra achar que a vida do país começa só depois do Carnaval, talvez fosse assim antes, mas agora?

Tem uns dias que fiquei aqui refletindo sobre a declaração do ministro da Economia Paulo Guedes, sabe? “Até mesmo a ‘empregada doméstica’ estava viajando para a Disney”. Afinal, tudo tem limite e subir na vida só de elevador de serviço. Será que perdi o time para essa história?

Minha tia é diarista, de segunda a sábado ela esta na casa de desconhecidos recebendo uma valor inviável para sobreviver, para limpar a casa deles, que por vezes reclamam que ela não limpa direito a casa que não é dela, mas ela precisa dessa grana. Minha tia nunca teve vontade de ir para a Disney, Guedes.

Meu padrinho é carpinteiro a vida inteira, é um artista, sempre achei meu padrinho um artista. Subir em lajes para deixar casas de gente muito rica bonita. Meu padrinho voou muito durante um período que tirava uma grana semanal muito boa, tinha uma obra atrás da outra. Meu padrinho, ministro, jamais teve vontade de ir para a Disney.

Eu mesma nunca tive vontade.

Mas a declaração do ministro reverbera em mim, que tenho na minha família trabalhadores não valorizados, e que talvez nunca se aposentem (obrigada aos envolvidos). A fala do Guedes é um recado: se vocês já tiveram condições de viajar de avião, encher os aeroportos e se misturar com a gente, se vocês podem ter carro, uma TV legal, chega. Esse tempo acabou, não vão ter mais. Será?

Me parece que o ano começou mesmo no dia primeiro de janeiro. A lógica me parece sempre a mesma, o pobre não pode e ponto. Pobre tem seu lugar e seus destinos profissionais e ponto.

Tudo isso para lembrar que 2020 está aí e que em 2 meses o governo conseguiu levar o país para um abismo ainda maior, jogando na frente a maioria da população. Se em 2019 foi o ano que a gente entendeu que dá sim pra morrer mais gente, dá sim pra acontecer mais de uma desgraça por dia, 2020 é o ano da consolidação do discurso de ódio contra pobres, negros, índios e mulheres. É guerra.

A elite não gosta quando a gente chega perto, eles olham de longe e planejam como vão tirar nossas conquistas. Estamos em um momento da história que o Estado segue mais cruel e assassino, o que nos resta é forçar o pé na porta do sistema.

Mas, e aí? Dá tempo da gente conversar? Sentar junto e pensar sobre qual cidade e país que queremos (acho que faço essa provocação aqui pela segunda vez). Quais são as possibilidades de ocupação, pressão e construção coletiva?

Precisamos avaliar, sim, o passado e todas suas conquistas para entender as estratégias de luta do presente e do futuro. Não dá mais para passarmos pano para vacilos partidários ou de grupos específicos, eles também não dão conta da complexidade que estamos vivendo. O tempo da espera passou, se não andarmos juntos não haverá mais país, estaremos todos caminhando em escombros.

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É possível ter corpos livres na cidade http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/02/20/e-possivel-ter-corpos-livres-na-cidade/ http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/02/20/e-possivel-ter-corpos-livres-na-cidade/#respond Thu, 20 Feb 2020 07:00:39 +0000 http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/?p=162 Me parece engraçado que cada semana eu venha com um tema. Mas eu sou assim, são tantas possibilidades de mim que vocês nem imaginam. De tantas formas a gente pensa a cidade, ajusta o coração e o corpo e faz isso tudo misturado, é sobre isso também o que deixa a gente vivo pra lutar.

As cidades também são feitas de corpos, e foi pensando nisso que começo esse texto aqui.

Há algumas semanas me bateu forte um tema que quase nunca li, e na verdade vou ousar aqui falar, mas não é bem a minha área de pesquisa. Estava em uma festa de amigos no Grajaú, zona sul de São Paulo, e acabei sentando ao lado da filha de uma amiga de lá, na verdade eu não a conhecia, foi a primeira vez que tive a oportunidade de estar próximo dela e conversar.

Na hora pensei sobre ser uma criança gorda na periferia, fiquei durante os outros dias pensando sobre isso, como eu era e quem eu era enquanto criança gorda, na escola, em casa, na rua, com os amigos e com a minha família. Numa conversa com outra amiga em um jantar em casa eu falei de supetão como eu me comportava na adolescência. Mas isso tudo gerou em mim curiosidade de lembrar quem eu era, de novo sobre lembranças que nos ajudam a construir o futuro, né?

Eu fui uma criança gorda desde sempre, não me lembro com outro corpo, com outros apelidos além de gorda, baleia, saco de areia, e outros vários clássicos dos anos 90 para acabar com nossa autoestima. Minhas lembranças são de remédios, exercícios com as mães das amigas, piadas dos pais das amigas (que seguem até hoje). Eu nunca fiquei com menino nenhum na escola até acabar o ensino médio, era sempre amores platônicos, cara. Olha só que doideira.

Quando criança, eu me escondia em grandes roupas largas, com a blusa de moletom da Fubu do meu irmão. Eu usava de manhã e, ele, à noite. Usava basicamente legging e camisetas grandes, cabelo preso. Era como se aquela roupa fosse me esconder de qualquer menino ou piada das meninas mais bonitas. Mesmo escondida, eu era a pessoa mais legal do bairro (é sério), eu era a pessoa que mais ria e fazia os outros rirem. Talvez fosse um mecanismo de defesa? Com certeza.

Já adolescente, eu continuei gorda, mas eu era mais a brother da escola, geral gostava de mim. No entanto, eu não era atraente para os meninos, e os amores platônicos seguiam na mesma, nada de novo. Era só ouvir assistir clipe triste na MTV e escrever no meu diário. Eu acabei de dar um Google para entender se há alguma coisa positiva em criança gorda e não há (mais uma vez. se alguém achar, por favor, coloca nos comentários).

Aqui mesmo neste blog eu já fui chamada de gorda, obesa e várias outras coisas como se isso fosse me ofender, não me ofende mais, queridos comentaristas. Tenho um olhar do meu corpo diferente hoje. Mas antes, como criança periférica, não passava nas catracas dos ônibus, tinha problema com roupas e usava a roupa do meu irmão, porque roupa mais cara nunca foi opção em casa, e roupa barata só tinha tamanho de adulto pra mim.

Claro que a obesidade infantil hoje é um problema sério, na verdade sempre foi, e não estamos fugindo disso por aqui, vale ler e assistir vários textos do Dr. Drauzio Varella. Mas, olha, existem pessoas gordas saudáveis, prazer eu sou uma delas. Ano passado eu tirei a vesícula no Hospital das Clínicas, fiquei internada por 8 dias e as perguntas como “você tem diabete? pressão alta? tireoide? ou qualquer outra coisa” eram diárias, inclusive cinco minutos antes da operação, a cara dos médicos e enfermeiros quando eu dizia não era de espanto.

Voltando.

Ser mulher gorda vivendo na cidade de São Paulo é um grande desafio, por muitas vezes a gente se boicota, isso na maioria das vezes. principalmente se você for mulher. Quando a gente se acha bonita se esconde, não sabe receber elogios, passa correndo pelo espelho e segue vida sem se olhar no espelho do prédio perto do trabalho. Ser a gente na cidade que te engole, te julga e te coloca no lugar estereotipado, é tão difícil ser a gente mesmo, talvez por isso a gente siga a vida interpretando quem não é ou sendo alguém horrível só pra ser percebida.

Inclusive nos pessoas gordas às vezes topamos relacionamentos bem merdas, bem abusivos, porque achamos que aquele é o máximo que vamos conseguir, aí a gente se machuca e é machucado e nos culpamos, de novo.

Violamos nossos corpos, nossa cabeça e todos os lugares mais íntimos presos aqui. Mas somos também somos as responsáveis pelas mudanças que queremos, responsáveis por novos olhares e por se reconhecer como um corpo livre na cidade, em casa ou em qualquer lugar.

E como é bonito quando a gente aceita ser exatamente como a gente é.

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Racismo ambiental revela genocídio de negros e pobres nas periferias http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/02/13/racismo-ambiental-revela-genocidio-de-negros-e-pobres-nas-periferias/ http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/02/13/racismo-ambiental-revela-genocidio-de-negros-e-pobres-nas-periferias/#respond Thu, 13 Feb 2020 07:00:25 +0000 http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/?p=157 Começamos essa semana com fortes chuvas em São Paulo, acredito que a maioria da população sentiu diretamente as consequências. Os bombeiros informaram que na Grande São Paulo foram 320 enchentes, 36 desabamentos  e deslizamentos e cerca de 47 quedas de árvores. São Paulo teve o maior volume de chuva em 24h em fevereiro dos últimos 37 anos. O esperado é que o volume aumente, e as consequências mostram que os eventos climáticos não são problemas que as próximas gerações vão sentir, são problemas que estamos sentindo agora e precisamos falar sobre isso.

Se a gente parar para olhar a cor das pessoas que moram nas favelas, nas vielas, nas margens de rios e represas, nos morros e nas ruas das periferias das cidades, vamos começar a entender sobre quem falaremos aqui. Olhemos a cor da grande parte dos corpos levados pelas enchentes, soterrados pelos deslizamentos, desmoronamentos, mortos com doenças causadas pela falta de saneamento básico e que perderam suas casas em mares de lama.

Há uma semana fiz uma provocação no meu Facebook e para alguns amigos diretamente “o que é racismo ambiental?” e um exemplo sobre “o que você classifica como racismo ambiental”. Eu recebi uma enxurrada de respostas, áudios, textos, mensagens, links e muitas visões que se convergem, achei muito importante esse exercício e movimento e entender o que as pessoas próximas pensam sobre isso ou, em muitos casos, nunca pararam para pensar.

Obviamente esse texto não encerra o debate sobre o conceito de Racismo Ambiental, a ideia é começarmos a abordar com mais frequência e com diversos olhares e exemplos, que infelizmente não acabam no Brasil, todos os dias temos novos casos, novos projetos públicos e grandes obras que afetam diretamente a população mais pobre. Por isso, é importante falarmos sobre as questões ambientais e sociais com mais naturalidade, com exemplos e com a história, para que as pessoas comecem a reparar os problemas socioambientais no seu dia a dia.

Ouvindo as pessoas, lendo muito sobre o termo há muitos anos e acompanhando debates ambientais no âmbito nacional desde que comecei nessa vida de ativista, funcionária pública e curiosa, foi assim que, hoje, consigo ter um olhar para essa urgência e achar que toda a sociedade precisa com urgência entender sobre isso.

Racismo Ambiental

O Racismo ambiental surge dentro dos debates e pesquisas sobre justiça ambiental, foi uma reivindicação realizada pelo movimento negro dos EUA. Como lembrado no primeiro texto deste blog, foi o reverendo Benjamim Chavis, assistente de Martin Luther King Jr. e ativista do movimento pelos direitos civis nos EUA, que empregou o conceito “racismo ambiental”. O caminho que conecta essas histórias é uma encruzilhada que chega nas desigualdades e discriminações étnicas e raciais, na qual definem quem são os excluídos e quem são os privilegiados nas disputas por territórios, levando em conta o que e quem está em disputa dentro dos direitos socioambientais.

No Brasil, o movimento ambientalista é uma pedaço elitizado que debate e que historicamente fez parte de processos importantes combatendo a degradação ambiental. Esse movimento em geral é formado por grandes pensadores, estudiosos e ativistas empenhados no tema. Ao lado, as comunidades tradicionais cada vez mais precarizadas e esquecidas na construção das cidades, mesmo assim, lutando e combatendo o processo desenvolvimentista dos últimos governos, independente de lugar ideológico. Se passaram décadas e as terras quilombolas não foram tituladas como deveria, os indígenas não tiveram suas terras demarcadas e os ribeirinhas estão cada vez mais à margem da pobreza na região norte.

A falta de água nas torneiras nas periferias não acontece em épocas específicas do ano, acontece todos os dias, para que as áreas nobres tenham água disponível, as pessoas periféricas convivem com a falta de água. Crianças morrem nas margens dos córregos nas enchentes, famílias perdem suas casas que foram construídas dentro das represas.

Em 2015, o fim da construção da Hidrelétrica de Belo Monte, que fica na região norte do país,  foi marcado pelo êxodo. 50 mil trabalhadores foram embora, os empregos desapareceram e a violência surgiu na cidade, juntamente com uma grande crise na saúde,nque sobrecarregou o hospital local quando o esgoto não tratado começou a ficar represado atrás da barragem. O consenso entre os especialistas em meio ambiente em Altamira é que Belo Monte, com seu desmatamento e alteração do fluxo do rio, também pode ter acelerado os efeitos regionais das mudanças climáticas, que já eram sentidos antes de sua construção. Ocorreram mortes de peixes e seus estoques despencaram, e as tartarugas que se alimentavam de peixes deixaram de se acasalar, prejudicando os meios de subsistência das comunidades tradicionais ao longo do rio Xingu.

Por fim, um exemplo da chamada “cidade de concreto”. As enchentes graves que ocorrem todos os anos no Jardim Pantanal, zona leste da cidade de São Paulo. O local convive com a expectativa da próxima enchente, em determinadas épocas do ano, é uma triste realidade para famílias do Jardim Pantanal. Para completar, as pessoas têm suas propriedades em situação irregular, o bairro está localizado numa Área de Proteção Ambiental (APA) junto à várzea do Rio Tietê, com aproximadamente 1 milhão de metros quadrados (m2). No final de 2009 e início de 2010, o bairro teve sua pior enchente. Foi quando a maioria dos moradores teve que conviver por cerca de três meses com suas casas invadidas pelas águas. Três meses sem água potável, além da incidência de doenças como a leptospirose e de pele.

Todas as gestões seguem um modelo de urbanização que é um desastre, pensada na lógica do centro, desconsiderando as áreas rurais, as margens das centralidades e com zero preocupação social e ambiental. É assim em qualquer lugar, em todas as mudanças de gestões, a solução é cimentar rios, construir grandes avenidas para melhorar o fluxo de carros próprios entre os bairros mais abastados.

O tema não se encerra e os exemplos são infinitos, infelizmente, mas o que vemos é que para garantir conforto e vida das pessoas brancas e privilegiadas dos bairros mais nobres das cidades, os governantes expõem pessoas negras e pobres às condições de maior precaridade e muitas vezes à morte. Faz sentido? É também um projeto de genocídio contra essa população.

É possível então começarmos a nos organizar e pensar sobre quais são os modelos de cidades que queremos de fato viver?

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Rios e mares nos conectam com as florestas do mundo http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/02/07/rios-e-mares-nos-conectam-com-as-florestas-do-mundo/ http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/02/07/rios-e-mares-nos-conectam-com-as-florestas-do-mundo/#respond Fri, 07 Feb 2020 07:00:11 +0000 http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/?p=151 Foi com uma bebida gelada de seriguela, fruta nativa do Brasil (cerrado e caatinga), o nível de mar até os 1.200 metros de altitude, ô loco, e uma ótima pedida para tomar olhando para o mar da Bahia, que pensei sobre o texto de hoje. Inicialmente, e para variar bastante, o texto era sobre outra coisa, mas minhas férias me fizeram mudar de ideia.

O mar é uma imensidão que nos conecta com o mundo. Já conseguiu entrar no mar, fechar os olhos e só ouvir a onda quebrar na areia? Abra os olhos e olhe onde ele termina, é água que não acaba mais, é infinito de vida. Tenho mesmo a impressão que o mar é infinito, que se conecta com outros mundos possíveis, outros povos, outras tradições, temperaturas, biomas, tudo com muita ancestralidade. Hoje eu pensei que queria ser o mar, cruzando na rebentação e olhando a terra de frente.

No mar o corpo é brisa, é no mar que o corpo se entrega, as pernas flutuam, os braços estão soltos, prontos para voar. Você abre os olhos e se conecta com o mais profundo da natureza. Água é uma coisa de louco mesmo, ela mexe com a gente, por dentro e por fora.

Entrar pela primeira vez no bar da Bahia foi isso, imensidão, e deixar o mar entrar, cada ponta que encontra a areia é diferente, chega e volta diferente. Parece com a gente, afinal somos natureza, mas perto do mar não somos nada. Eu me obrigo a sentir o tempo mais lento, o mar leva meu corpo a dançar, a mata enfeita meu olhar, estamos com o espírito atento e o corpo dançando. O mar alimenta.

Há uns anos conheci o encontro do mar com o rio, na Ilha do Marajó, e o encantamento foi instantâneo, como poderia o mar salgado encontrar o rio doce, assim, como duas pessoas que se encontram para dançar e nem se conhecem tão bem. Me lembro de sentar na areia e ficar por horas observando aquele movimento de conexão.

Outra coisa que me encanta são os igarapés, quem nunca nadou em um igarapé precisa resolver isso e viajar logo para a Amazônia, ele é um curso d’água amazônico, que nasce dentro das florestas, a maioria dos igarapés tem águas escuras semelhantes às do Rio Negro, um dos principais afluentes do Rio Amazonas. Os igarapés amazônicos constituem parte integrante e essencial no funcionamento da floresta, pois funcionam como corredores ecológicos. Imaginar só a floresta criando água pra gente nadar, água geladinha, limpa e tão necessária para a natureza.

Todas as águas se comunicam, em algum momento se cruzam pelos biomas, um acaba aqui, outro ali quando o outro começa. Não há nada como nadar nas águas criadas pela natureza, seja elas no mar, no rio ou no igarapé. Imaginar só viver em cidades com rios limpos, cidades com mar aberto e acesso para todos. Seria as águas limpas atravessando as pessoas, abraçando as cidades e dando o clima, lazer e felicidade ideal para a natureza e as pessoas.

A partir de hoje então, pisa no mar, deixa ele movimentar seu corpo, pisa na areia e olha a imensidão, gira e espia que a floresta olha para o mar com olhar de agradecimento, e vice e versa.

Só se conhece o Brasil depois de conhecer os rios e mares do norte e nordeste, conhece os cantos, as matas, as costas, o cheiro, a comida e a imensidão de natureza que produz sobrevivência para todo resto do país. É lindo, precisa ser visitado com responsabilidade e colocado como prioridade nas lutas ambientais. Pessoas vivem e preservam essas águas que geram vida para o restante do país.

A água é maré de lembranças, tempestades, ventos, arrebentações, longas calmarias, pescadores, marinheiros, nadadores e piratas. Ela dá volta no mundo e o mundo dá volta nela, é imensidão mesmo, eu disse.

O texto parece poema, parece felicidade de férias, mas é sobre responsabilidade com nossos rios, mares, igarapés e tudo mais onde a água corre. A gente precisa respeitar a biodiversidade. E dá-lhe música sobre o mar.

Eu Quero Ser o Mar – Mahmundi

Eu quero ser o mar
Cruzando a rebentação
Indo com delicadeza no ar
E a terra é alto-mar
Longe das turbulências
Meus medos vão se acalmar
Lá aonde surge a onda pra recomeçar
Na profusão dos sentidos da vida da gente
Da vida do tempo da gente
Mas eu tão aflito
Não consigo
Eu quero ser o mar

Oh

Lá aonde surge a onda pra recomeçar
Na profusão dos sentidos da vida da gente
Da vida do tempo da gente
Mas eu tão aflito
Não consigo
Mas eu, eu quero ser o mar

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As lembranças nos desafiam a construir dias melhores http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/01/30/as-lembrancas-nos-desafiam-a-construir-dias-melhores/ http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/01/30/as-lembrancas-nos-desafiam-a-construir-dias-melhores/#respond Thu, 30 Jan 2020 07:00:20 +0000 http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/?p=143 Hoje me peguei pensando sobre lembranças.

Lembrança é um troço que bagunça mesmo a gente, e eu nunca parei para prestar atenção na lembrança. Então, hoje eu sentei no chão do quarto, abri as caixas, as pastas, as fotos e toda lembrança estava ali. Tenho uma parte aqui em casa, uma parte na minha mãe e uma parte na casa do meu padrinho em Colônia, bairro da zona sul de onde eu vim.

Eram tantos papéis, acho que separei uma porção enorme de folders sobre unidades de conservação, crachás de eventos, manifestos, organização de falas em eventos, revista com entrevistas, fotos e uma bagunça sem fim de documentos que também são um resgate de momentos que a gente guarda numa caixinha.

Eu preparei uma porção de temas e pautas para escrever nos próximos dias, meses, tenho um plano na minha cabeça e, em um documento, uma trilha a seguir.

Quase 80% da minha curta vida existiu dentro de um pedaço da Mata Atlântica, na Colônia Paulista, no extremo sul da cidade, mas isso vocês que estão acompanhando aqui devem saber bastante. E todo o início da minha vida me fez olhar para São Paulo de um jeito diferente. Eu acordava de manhã com galo cantando, cachorros aos montes no quintal, café quente, passarinhos, agitação de vô se preparando para cuidar do quintal.

Meu almoço, em geral, era sempre sobre o que colhíamos, mas isso também já contei. Meu avô fazia batata e brócolis cozidos com sal pra gente – que delícia! E quando era sopa de feijão meu coração sorria e não havia felicidade maior do que mergulhar o pão naquele caldo, lambuzar a camiseta. Era incrível e feliz.

Então talvez esse texto seja sobre memória afetiva, uma provocação para você e para mim sobre como resgatamos nossa memória afetiva. Lembranças de bons trabalhos, boas lutas, boas escolhas, mas também bons beijos, boas transas, bons amassos debaixo da escada da escola e bons sorrisos. E, claro, boa comida, aquela que você fecha os olhos, sente pela boca e ela desce como se você estivesse correndo pela praça depois de pular do balanço. Da mexerica do quintal do avô, que os amigos do irmão levavam aos montes. Do primeiro amor. Mas também da primeira dor que sentiu, da ausência, da falta e quando quebrou o dedo indicador da mão esquerda sendo goleira no handebol.

Quantos buraquinhos na terra você lembra que abriu sorrindo e feliz para seu avô colocar a muda de alface? E depois você regava tudo? Quantas foram as vezes que você acampou na cachoeira do Jamil e dos Piolli, encorajada pelos amigos. Quantas vezes fez trilha e nadou nos rios limpos da cidade de São Paulo? As fotos são poucas, mas o registro dentro de você é para todo o sempre.

Remexendo nas minhas coisas achei meu diploma da universidade, conquistada com Prouni e prova Unisa para que o valor fosse bem pequeno e rolasse pagar com a grana do estágio. Eu ainda não sei por que não estão na parede.

Eu sinto saudades das brincadeiras de quando era criança, da família bagunçada e divertida. Os tempos nunca foram fáceis, mas eu sentia menos medo de existir, eu acho. Sentia menos medo de perder amigos mortos por existirem.

Eu sempre que mudo a rota tenho a sensação que tô saindo do rio Capivari, gelada, e precisando me cobrir, mas me sinto pronta para enfrentar movimentos novos. Talvez seja para isso que servem as lembranças, sejam elas boas ou ruins. Elas servem para nos fazer viver e olhar para frente. Enfrentar os medos da política, os medos do futuro, os medos que nos circulam e os que estão por vir.

Meu desafio é que a gente olhe para as lembranças de maneira generosa, conecte-as com nosso modo de viver atual e espere que faça algum sentido. Faça isso pegando fotos antigas, cartas, vendo vídeos velhos e fazendo uma reflexão sobre o que está guardado e pode nos ajudar a construir um novo futuro, sobre dias melhores.

Eu vou continuar fazendo por aqui.

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SP abre parques em meio à Mata Atlântica para visitação http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/01/23/sp-abre-parques-em-meio-a-mata-atlantica-para-visitacao/ http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/01/23/sp-abre-parques-em-meio-a-mata-atlantica-para-visitacao/#respond Thu, 23 Jan 2020 07:00:34 +0000 http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/?p=128 A imensidão da Mata Atlântica é algo para se contemplar. É lindo, e a maior e mais significativa parte desse bioma fica dentro da cidade de São Paulo. Assim que entendi a Mata Atlântica como parte do meu cotidiano, que estava no quintal da minha casa, no caminho para a escola e nos finais de semana, comecei a respeitar essa imensidão biológica dentro do meu território.

Dia desses, eu estava à caminho do Embura, bairro bem próximo do meu no extremo sul da cidade de São Paulo, com um amigo e eu contava pra ele meus finais de semana. A Parati parava no portão de casa, eu entrava, meu padrinho só fazia um aceno para o Seu Lima e, dali, a gente seguia para as maiores aventuras do final de semana. Acampamento, muita diversão nas trilhas, nas cachoeiras e na montagem de tudo para os dias bons que viriam. Seu Lima era pai de grandes amigos, nosso guia e mentor em muitas descobertas pelas matas de Parelheiros. Cresci junto com seus filhos, os grandes amigos Lucas e Annibal Lima, amizades que a floresta me deu. 

Essa lembrança gostosa da infância e da adolescência me conecta com a beleza que é ser adulta neste momento. O momento em que São Paulo ganha cinco novos parques (eles já existiam, mas foram abertos para a visitação). São cinco parques dentro das periferias, prontos para receber as pessoas e ser referência de conservação nos territórios. É emocionante estar presente.

Foram anos de muitas construções, reuniões, um vai e vem absurdo. Vivemos um momento em que mais uma gestão não prioriza o meio ambiente, em um país que nos últimos anos não deu lugar para as gestões de unidades de conservação, que não priorizou a conservação e preservação dos recursos naturais para a sobrevivência das pessoas e biodiversidade. O Brasil elegeu há apenas um ano um governo irresponsável, que construiu tempos de desmontes, Amazônia queimando, não demarcações de terras indígenas, morte de quilombolas e indígenas, mortes de ativistas, falta de recursos, água marrom nas torneiras das cidades, pessoas morrendo em desastres ambientais, falta de gestão adequada nas unidades de conservação e uma lista sem fim de desgraças que nos fazem perder o ar, água, território, cultura, biodiversidade e pessoas.

Dentro de um cenário apocalíptico, receber a notícia de que, depois de mais de dez anos de muita luta e trabalho, a cidade de São Paulo abre para visitação cinco unidades de conservação, quatro na zona sul e uma na zona leste, é fazer a gente respirar em tempos tão escassos. São eles o Parque Natural Municipal Itaim, Parque Natural Municipal Bororé, Parque Natural Municipal Jaceguava, Parque Natural Municipal Varginha, na zona sul, e o Parque Natural Municipal Fazenda do Carmo, na zona leste. Para se ter uma ideia da dimensão dessas áreas, o tamanho do Parque Natural Municipal Itaim equivale a quase 500 campos de futebol, e as cinco unidades juntas somam mais de 2 mil hectares. São espaços com categoria idêntica ao das grandes reservas nacionais. 

Acompanhei de perto todo o processo da criação dos parques naturais municipais Itaim, Bororé, Jaceguava e Varginha. A criação destas Unidade de Conservação de proteção integral é fruto dos recursos referentes ao licenciamento e a compensação dos impactos ambientais e sociais causados pelas obras do trecho sul do Rodoanel Mário Covas na região sul. 

Aqui é importante lembrar o rasgo absurdo que o Rodoanel fez em Parelheiros, presenciar a floresta saindo e o concreto chegando foi dolorido. Registrar o papel da gestão na época do licenciamento é importante, liderado pelo então secretário municipal do verde e do meio ambiente, Eduardo Jorge, que durantes as negociações conseguiu, orientado pelos técnicos da pasta, dobrar o tamanho da área dos parques durante as negociações da compensação, ao contrário do que havia sido proposto anteriormente pelo Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Coragem da gestão da época e dos diversos técnicos competentes. 

Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), Lei Federal n° 9.985/2000, as unidades de conservação de proteção integral, como estes parques, têm como objetivo básico a preservação da natureza, permitindo apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. Estas unidades contribuem com a manutenção dos serviços ambientais prestados ao município, além de garantir a proteção dos recursos naturais e sua biodiversidade.

A legislação, o SNUC, determina que as unidades tenham planos de manejo e uma integração com a cidade que só agora está saindo do papel. A proposta é medir a utilização das unidades entre janeiro e fevereiro para criar um plano futuro de visitação. Os parques serão abertos pela primeira vez neste verão para a visitação do público, que vão poder utilizar as trilhas pela mata e conhecer cada pedaço das unidades e, quem sabe, cruzar com animais silvestres que moram pelas matas. Os parques ainda margeiam as Represas Billings e do Guarapiranga. 

Como disse o gestor da APA Capivari-Monos, Luccas Longo, “uma relação de dependência mútua em que as experiências, especialmente as emocionais, farão com que os limites desses cinco Parques Naturais Municipais e as duas Áreas de Proteção Ambiental (APAs), Capivari-Monos e a Bororé-Colônia, que os acolhem e se unem a eles, se ampliem nas pessoas”.

As unidade de conservação no extremo sul são um refúgios de biodiversidade, produção de água e muitos serviços ecossistêmicos. Mas, junto a elas, temos também a cultura e produção rural com influência nordestina, alemã e  japonesa. Temos os rios, cachoeiras, paisagens rurais e outras áreas protegidas, como a Terra Indígena Guarani Tenondé-Porã com sua expressividade ancestral, os terreiros de religião de matriz africana, o Parque Estadual da Serra do Mar (Núcleo Curucutu), a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Curucutu e a APA Parque e Fazenda do Carmo. Todos esses atores, espaços, unidades fazem a zona sul acontecer e significar para toda a cidade.

Esses parques são uma vitória para um território não lembrado pelo centro da cidade. Enquanto o burburinho girava por aqui e se brigava por muito recurso para uma área no centro da cidade, as periferias continuavam com áreas fechadas e sem uso, por falta de recurso e boa vontade. Enquanto se discutia novos parques, a comunidade se mobilizou e os técnicos não desistiram de encontrar a melhor maneira de abrir as unidades. Não sei dizer a quantidade de reuniões dos conselhos gestores da áreas de proteção em que brigamos pela abertura desses parques. 

Eu, todos os técnicos competentes da secretaria do verde e do meio ambiente, a comunidade local e todos que esperaram por esse momento, não temos dúvidas que teremos dias melhores. Dias para se reconhecer e se conectar ainda mais com o prazer de estar e viver dentro da Mata Atlântica, ter a opção de não pegar longas horas de transporte público, aos sábados e domingos, para passear em parques urbanos, poder frequentar e estar dentro do que conseguimos conquistar, dentro do nosso território.

Já disse isso uma vez, e repito que ter porções de florestas nas grandes cidades é algo cada vez mais raro e difícil no país. São Paulo ter a oportunidade de manter, mesmo que com muito sufoco, grande parte de um pedaço de Mata Atlântica é brilhante e necessário. Por essa razão seguimos trabalhando, nos mobilizando, frequentando conselhos, cobrando, preservando, falando, escrevendo e dizendo a importância das áreas preservadas para se respirar, comer, beber e viver. 

Veja as informações necessárias para visitar os parques naturais durante o projeto experimental:

Parque Natural Municipal Itaim
Data: 14/01/2020 – sempre às terças-feiras e finais de semana
Horário: 10h (inauguração) 8h às 17h
Local: R. Amaro Alves do Rosário, 2676 – Parelheiros, São Paulo – SP

Parque Natural Municipal Varginha
Data: a partir do dia 15/01/2020 – às quartas-feiras e finais de semana
Horário: 8h às 17h
Local: Av. Paulo Guilguer Reimberg, 6.200 – Chácara Santo Amaro – Grajaú, São Paulo – SP

Parque Natural Municipal Jaceguava
Data: a partir do dia 18/01/2020, às segundas-feiras e finais de semana
Horário: 8h as 17h
Local: Av. do Jaceguava, próximo ao nº 1100 – Bairro Jaceguava – Parelheiros, São Paulo – SP

Parque Natural Municipal Bororé
Data: a partir do dia 16/01/2020, às quintas-feiras e finais de semana
Horário: das 8h às 17h
Local: Estrada das Vieiras, s/n, Bororé, Distrito de Grajaú.

Parque Natural Municipal Fazenda do Carmo
Data: a partir do dia 04/02/2020 – às terças-feiras
Horário: 8h às 17h
Local: Estrada da Fazenda do Carmo, 350 – Itaquera, São Paulo – SP

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Agricultura na cidade de São Paulo conectando pontes e territórios http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/01/16/agricultura-na-cidade-de-sao-paulo-conectando-pontes-e-territorios/ http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/2020/01/16/agricultura-na-cidade-de-sao-paulo-conectando-pontes-e-territorios/#respond Thu, 16 Jan 2020 07:00:55 +0000 http://marianabelmont.blogosfera.uol.com.br/?p=121 Não consigo me lembrar de quando não consumimos verduras e legumes orgânicos em casa. A gente sempre teve tudo no quintal, ou quase. Santo chuchu na cerca!

A minha memória afetiva com a comida é tão forte, em tantos momentos, mas acredito que quando fecho meus olhos, me lembro de chegar da escola na hora do almoço e sentar para comer com meu avô Américo. Ele cozinhava batata com brócolis, tudo colhido no quintal, passava um fiozin de azeite por cima e a gente comia sorrindo. Além de economizar demais nos gastos de mercado, afinal a gente era muito duro de grana, todo o processo de entender de onde vinha, olhar meu avô cuidando do quintal dele e até chegar o momento de comer era importante. A comida impõe momentos importante de lembranças e afeto com quem a gente gosta de sentar à mesa.

Eu, como vocês já sabem, nasci no bairro da Colônia Paulista, extremo sul da cidade de São Paulo, distrito de Parelheiros, zona rural e com a maior concentração de agricultores da cidade, é impressionante a gente pensar que a cidade conhecida pelos arranha-céus e a poluição tem um lugar com tanta Mata Atlântica, diversas unidades de conservação e mais de 400 agricultores familiares espalhados pelo território. Não há nenhuma dúvida que ter uma zona rural, que produz água preserva sua área verde, é um dos maiores privilégios para o município de São Paulo, mesmo estando tão perto do centro urbanizado.

A região de Parelheiros é o segundo maior em extensão da cidade de São Paulo, com 153 km² pouco povoados. É por lá que encontramos nossas inúmeras cachoeiras e rios de águas limpas, vindos do incríveis e resistentes Monos e Capivari, que atravessam as reservas remanescentes de Mata Atlântica e ofertando água para a população e para a irrigação do solo.

A diversidade e grande quantidade de pessoas produzindo em Parelheiros tem raízes históricas. A região sempre teve entre suas maiores vocações a produção agrícola. A diversidade de habitantes inclui índios guarani, imigrantes alemães, japoneses e migrantes brasileiros, e muito em especial os nordestinos. A região foi ocupada de modo efetivo com a implantação da Colônia Alemã em 1829, cuja ocupação foi justificada, dentre outros pontos, pela urgência de modernização das técnicas produtivas, tanto para a agricultura como para a indústria. Passaram a produzir batata, arroz, feijão, milho e mandioca, além de criarem animais para abate, comercializar madeira e carvão.

A presença inicial de alemães na região de Santo Amaro impulsionou a vinda de outros imigrantes que tem seu início em 1826 (segunda década do século XIX). A imigração japonesa transformou Parelheiros e Marsilac na maior área agrícola de São Paulo. Para se ter uma ideia da força da imigração japonesa, a Igreja Messiânica hoje tem seu maior templo fora do Japão localizado na região – o chamado Solo Sagrado, inaugurado em 1995. A onda de migrações internas para a região em meados de 1947, proveniente do interior do estado e de outros estados brasileiros, em especial do Nordeste, trouxe nova leva de pequenos e médios produtores, que se ocuparam principalmente no cultivo de legumes e hortaliças. E num movimento mais recente, os chamados neo rurais, que são pessoas que encaram o trabalho no campo como um espaço de oportunidades e estilo de vida e chegaram à região, num refluxo da cidade para o campo, aproximadamente de três décadas para cá.

Nos dias de hoje a região conta com produtores organizados, como na Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais e de Água Limpa da Região Sul de São Paulo (Cooperapas), que produz verduras e hortaliças, escoando esses alimentos por meio de feiras, eventos, venda direta e cestas. Apostando no alimento orgânico como transformador das relações entre as pessoas e o território. Reúne cerca de 35 agricultores cooperados. Criada em 2011, a cooperativa nasceu do desejo de alguns produtores familiares de não mais produzir alimentos com os métodos ditos “convencionais” – uso de agrotóxicos para reter pragas, uso de adubos ou fertilizantes químicos para acelerar o crescimento de hortaliças, e começar a utilizar produtos orgânicos para cuidar da produção.

Tem que ir a Parelheiros, conviver com a experiência de afeto e reconhecimento de quem acorda cedinho para que o alimento de toda cidade esteja na mesa com qualidade. Tem que ir, conhecer Vânia e Valéria, a Dona Maria do Carmo que fica ali no Vargem Grande, a Tomi e o Jai na Ilha do Bororé, seu Joaquim na Barragem. Percorrer as estradas do Marsilac sentindo o ar puro batendo no rosto, descer na estrada e encontrar seu Zé indo correndo para o sítio abrir a roça e te entregar uma couve fresquinha. E claro, se puder pare no restaurante da Marlene, que usa muitos dos produtos fornecidos pelos produtores da região, além do uso do cambuci e outros frutos nativos da Mata Atlântica. Bom, fora que a Marlene da um abraço incrível assim que você chega por lá, vale muito a pena.

As mais diversas formas de viver nas periferias de São Paulo, e a agricultura é uma das mais importantes para a zona sul e para um pedaço da zona leste. Você consegue comprar e conhecer os agricultores nas feiras orgânicas pela cidade, dando um pulo em alguma propriedade (só não esquece de avisar antes de chegar!) e buscando serviços de entrega de cestas, como o Balaio Orgânico, do Vinicius Ramos.

Viva a agricultura familiar da cidade de São Paulo! 

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