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Mariana Belmont

Gente, 2019 já deu o que tinha que dar, vamos encerrar? 

ECOA

19/12/2019 04h10

Estamos chegando ao fim de 2019 cansados, mas ainda faltam uns 15 dias para que o ano acabe. Chegando no final do ano, mas calma, não é um texto de balanço ainda, nem desejo de nada ainda.

Essa época do ano já sinto o cheiro e natal, das festas de final de ano, as filas, o movimento pela cidade, presentes, mas um cheiro familiar. Natal sempre foi um evento superestimado lá em casa, os preparativos eram intensos, muita comida sendo preparada ao longo da semana, presentes. É isso, a gente tinha o possível durante o ano, mas no natal nada era economizado, era tempo de fartura. E segundo minha madrinha era tempo de fartura mesmo, de encher carrinho de supermercado, de produzir comida para mil pessoas, e deixar sobrar para os outros dias a gente fritar o peru na frigideira e comer com pão francês. Mas o natal nunca me caiu bem.

E acho que segue pior esse ano, com um cenário apocalíptico na política brasileira, todos os absurdos cometidos por um presidente que comete abusos atrás de abusos, retrocessos a cada 3 min, contados no relógio. Todos os tipos de estupidez em todas as áreas, na saúde, na educação, meio ambiente, segurança pública. São inimagináveis, surreais, mas esperados. Então natal em família para falar sobre as dores de 2019? 

Então, acho que já podemos pedir para que 2019 se encerre, fechamos as portas da terra arrasada e seguimos recuperando o resto de fôlego para o próximo ano. Esperando que enquanto a gente nada ninguém venha com a mão enfiar nossa cabeça na água, sem dar tempo de respirar. Mesmo assim, não dá pra vacilar, meus amigos, então te escrevo para pedir cautela no recesso, atenção aos movimentos dos capitães do mato, eles seguem no projeto da destruição. 

Tenho pressa, mas tenho atenção, nada tá de boas assim, suave. 

Eu que tenho um pouco mais de trinta tenho pressa, mas não muita, mas não sei, tenho a sensação que aquelas piadas dos meses que não acabam não tem mais graça, afinal 2019 passou de qualquer limite aceitável da brincadeira. 2019 foi o ano que a gente entendeu que dá sim pra morrer mais gente, dá sim pra acontecer mais de uma desgraça por dia e dá pra ver que o que mais a gente fez foi tentar enxugar o gelo que tá derretendo em consequência das mudanças climáticas. 

Sem crise, mas acaba logo e deixa a gente já começar a respirar o ar dos próximos pacotes de maldade. Se tivermos sorte o presidente e sua trupe tira férias nos EUA, se tivermos sorte, afinal ele também parece cansado. 

Toma banho, se arruma, senta no sofá e fica vendo os especiais até a hora da ceia, dá 00h, geral bebado, menos eu, entrega de presente. As tretas começam. Melhor dormir que ano novo tá chegando cheio de esperança de melhoras, amanhã a gente come as sobras maravilhosas e congela o resto do peru coitado. 

Esse ano não tem churrasco de carne vermelha na quebrada, nem peru de natal, vai ser o que vier na cesta de natal, se tiver cesta de natal. E ovo, o melhor dos nossos companheiros nas horas de apertos financeiros. Salve salve o pão com ovo. Nas periferias as famílias fazem o role rolar de qualquer jeito, e quem não tem se junta com o vizinho. 

Ainda não é um texto de despedida de "adeus ano velho, feliz ano novo". É o começo de uma reflexão sobre os dias que foram e os que virão, mas melhor mudarmos a folha do calendário sem retrospectiva, não tem espaço no HD. Vamos focar no que é importante, então aproveita os próximos 15 dias que nos restam de 2019 para fazer com profundidade uma análise sobre como você, individualmente, atuou para uma rua, uma cidade, um estado e um país melhor. Qualquer coisa importa!

Na sequência pensa o que quer fazer em 2020, que será ainda mais barra pesada, mas vamos precisar usar habilidades contra as ondas conservadoras e os tantos retrocessos. Estamos dispostos a estar juntos pelo que importa de verdade? Combatendo as maldades e os absurdos do governo e do congresso nacional. 

Ano que vem temos eleições municipais, vale refletir se queremos seguir elegendo conservadores ou se começamos a repensar e apoiar melhores representantes. Enfim, um ano absurdamente cansativo, mas que vale para reflexão dos próximos dias que virão. 

Eu tô cansada, mas seguimos. 

Sobre a Autora

Nascida em Colônia, extremo sul da cidade de São Paulo, Mariana Belmont se define como uma esticadora de pontes. Atuando com mobilização e comunicação para políticas públicas, faz parte da Rede Jornalistas das Periferias, constrói o Ocupa Política e colabora com a Uneafro Brasil.

Sobre o Blog

Cidades que são florestas, florestas que são cidades, mudanças climáticas e conexões para viver melhor. Semanalmente, Mariana Belmont pensa sobre o que tudo isso tem a ver com a gente, e explica melhor essa história de meio ambiente sermos todas e todos nós juntos no mundo.